Dislexia, dilesxia, ledisxia, disdexia...

terça-feira, março 04, 2014

Bem, não sei muito bem como fazer essa introdução, eu encontrei um layout free super fofinho, e resolvi mudar, já que nunca vi muita gente usando esse. Ainda não está tudo organizadinho, porém vou tentar fazer tudo hoje, colocar algum menu legal, fazer um cabeçalho bonitinho, arrumar tudo.

E já que hoje eu não sabia corretamente o que postar, queria dar mais esse aviso, resolvi postar um texto meu que eu realmente adoro. Fiz ele para uma aula de Redação, e desde então é minha "obra" preferida, espero que gostem.

Dislexia: É uma dificuldade na área da leitura, escrita e soletração, que pode também ser acompanhada de outras dificuldades, como, por exemplo, na distinção entre esquerda e direita, na percepção de dimensões (distâncias, espaços, tamanhos, valores), na realização de operações aritméticas.

Admitirei nessas páginas que palavras nunca fizeram sentido para mim. O motivo? Eu realmente não sei. Os professores se preocupam, dizem que eu tenho uma espécie de problema, chamado de dislexia, ou seria ledisxia? Foda-se, não estamos aqui para resolver como se escreve isso.

 Eu realmente nunca consegui ler algo sem ficar confusa, sem me sentir zonza. Então sempre utilizei dos desenhos e da minha imensa criatividade como forma de expressão. O que apesar de muitas pessoas acharem interessante, meus colegas de classe repudiavam. Eles repudiavam tudo, o fato de eu ter um problema, o fato de eu não conseguir ler e muito menos fazer contas matemáticas, diziam que tudo não se passava de frescura de minha parte, e que eu usava uma doença falsa como desculpa para minha burrice. Na realidade, eu nunca sequer aleguei ter essa doença com nome estranho, apenas pensei que isso era uma possibilidade.

 Eles acabaram me excluindo, e a cada dia, se afastavam mais, perdi os amigos de infância, que na realidade nem eram tão amigos assim, eram só pessoas com as quais eu dividia a massinha de modelar. Comecei a considera-los como colegas de sala, e as vezes nem isso, dizia para minha mãe que eles eram "pessoas que estudavam na mesma escola", infelizmente.

 Como toda mãe que se preze, a minha era extremamente preocupada com meus atos. Me levava frequentemente a psicólogos, que tentavam a todo custo arranjar uma suposta "cura" para essa doença. A cura que na realidade se chama prática. A velha me levava para todo canto, me colocava em grupos de apoio, querendo que eu tivesse amigos, porém nunca consegui. Todos do grupo de apoio eram chatos, idiotas, retardados, problemáticos...eu não era problemática, apenas tinha uma dificuldade, a qual hoje em dia é extremamente comum.

 Lembro-me das risadas vindas das minhas costas, as quais causavam tanto impacto quanto um balde de água fervendo em minha cabeça. Risadas de farra, risadas mal educadas, risadas de puro deboche. Naquela época elas me causavam uma dor imensa, meu sangue borbulhava, começando pelas mãos sempre inquietas, as quais jogavam algum objeto na primeira pessoa que aparecia em minha frente, a qual na maioria das vezes...era a coitada da professora, que ganhava um misero salário para aguentar um bando de retardados o dia inteiro.

 Então todos se assustavam, as carteiras que eu havia desviado lentamente alguns minutos antes, simplesmente voavam pela sala, empurradas pelo meu corpo frágil, porém cheio de mágoas e fúria. Eram canetas coloridas voando, folhas de cadernos infantis sendo arrancadas e amassadas em um ritmo impressionante. Alguns gritavam, outros apenas paralisavam, com olhares aterrorizados, eu realmente me comportava como um animal.

 Só parava quando olhava para o rosto da monitora de alunos, algo um tanto rechonchudo me encarando, as sobrancelhas pretas e grossas arqueadas sob os óculos redondos de lentes grossas. Aquilo me dava calafrios, eu desviava o olhar para seus quadris quase entalados na porta escura da sala, então encarava aquele par de pés pequenininhos, que calçavam tênis esportivos brancos. Ia até ela, caminhando em passos lentos, sendo acompanhada por comentários de mal gosto e risadas maldosas.

 Até hoje faço uma expressão de dor ao lembrar daquelas unhas compridas e tingidas de vermelho que apertavam meu braço fortemente. Meus ouvidos doem enquanto eu lembro de sua voz estridente. Ela fechava a porta da sala rapidamente, e descontava toda sua raiva diária em mim. Me chamava de burra, de animal, de tudo que era possível, e assim eu me sentia mais rebaixada, diferente de todos os meus colegas, os quais na realidade, eram muito menos humanos do que eu.

 Eu ficava lá, sentada na cadeira da recepção, muitas dessas vezes eu fugia, em pleno desespero. Aquele era um ato de completa covardia, porém eu era uma simples garotinha, que ainda acreditava no seu suposto príncipe encantado, na sua suposta vida de rainha. Mal sabia eu que isso estava longe de ser realidade, que o mundo era composto de várias pessoas covardes, idiotas e extremamente rigorosas.

 Simplesmente não consigo contar o número de vezes que subestimaram minhas capacidades por causa disso, as vezes até meus pais, que não me davam sequer o cardápio do restaurante quando íamos a um. Eles simplesmente ignoravam minha cara de decepção e liam, comida por comida, bebida por bebida, sobremesa por sobremesa, até eu escolher algo que não gostava, com o mais infantil intuito de terminar com aquela tortura.

 Mal sabia eu que aqueles meus ataques eram apenas mais uma alavanca para a zombaria, bastava eu dar um berro e contar até três regressivamente que tudo começava, as risadas, e a frase que até hoje me perturba "mas que menina burra". São poucas palavras, porém me imergem num passado tão sofrido, que eu fico simplesmente parada, olhando para o nada, mesmo tendo amadurecido bastante não consigo lidar com esse conjunto de palavras praticamente inofensivas, que para mim é realmente uma bomba.

 E o mais trágico de tudo isso era quando eu ia embora, nada de tentar pegar o ônibus novamente. Aquelas letrinhas rolando pelo mostrador digital do vidro dianteiro não me dizem o seu destino. Na realidade não me dizem coisa alguma...

 Por favor, não copie

13 comentários

  1. Adorei seu texto, realmente é uma obra a se ter um certo carinho, você soube escrever com um carinho e com detalhes que nos fez sair de nossa zona de conforto e vivenciar todo o texto por os minutos que paramos para ler.
    Até mais. Muito bom conhecer seu espaço. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  2. O texto é lindo, mas você tem mesmo dislexia? Parabéns ^^

    uns-killed.blogspot.com

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    1. Na realidade minha melhor amiga tem, e ela sempre ficava contando as coisas que tinham acontecido com ela, então pedi permissão e ela deixou que eu escrevesse o texto me inspirando nela

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  3. Gotei muito do novo layout' *u* Seu texto sobre o caso ficou enorme, mas gostei... Conheço alguns amigos que tem dislexia.
    http://panda-blogueiro.blogspot.com.br/

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    1. Tenho que mais uma vez agradecer imensamente ao Alan por disponibiliza-lo em seu blog =3 Eu queria fazer algo menor, só que fui "deixando levar" e acabou ficando muito comprido

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  4. Nossa que layout fofo, não mude tão cedo u_u
    Adorei o texto, eu sempre soube essa "doença" mas quando eu descobri sobre ela eu tinha 6 anos, eu mal sabia falar o abcedário.
    Mas isso não vem ao caso, eu adorei o texto, acho que eu lembrei de algumas forma de "extraordinário" foi bem gostoso de se ler ♥

    XOXO :D | Joven Clube

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    1. Desde pequena eu tive uma certa curiosidade com essas coisas, era até meio estranho. Que bom que gostou =3

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  5. Lindo Texto Ana.
    Amore você é nova postadora do Lost in Paradise e preciso do seu email para adicionar <3
    Seja Bem vinda amiga Aguardo sua resposta... Beijinho

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    1. Tu não tem noção da cara que eu fiz agora HUASUHASUHAUS O e-mail: anadeabacchi@gmail.com

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    2. ^-^ Já enviei, acho que a mensagem cai na caixa principal "social" e não principal do gmail, se quiser remover a conversa por causa do seu email. ;)
      Seja Bem vinda Ana <3
      Beijos

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  6. Ficou muito bom, sério.
    Quando eu leio sobre algo, como a dislexia, eu vejo se me identifico com alguma característica dela. Sempre foi assim quando pegava os livros de ciência.
    É extremamente improvável que eu tenha dislexia, mas quando eu era menor eu tinha uma noção de espaço... Até já confundi "alguns passos" com "alguns metros" :v

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    1. Eu também tenho essa mania, qualquer deficiência ou problema que eu conheço vou procurar se tenho alguma semelhança com as pessoas que sofrem dele, assim que descobri que tenho Síndrome do Pânico, as vezes essa curiosidade exagerada faz bem =3 Que bom que gostou do texto.

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